Eu, você e o outro. O que todos temos em comum? Somos seres humanos é claro.... Mas o que define um ser humano? Para mim é a comunicação, a linguagem, nossos códigos. O homem é gregário por natureza e precisou construir a linguagem, denominar os códigos para criar harmonia dentro de sua comunidade, para entender os objetivos comuns. Por toda a história o homem conversou, não só entre si, mas também com a natureza. Criamos códigos, por exemplo, para que os cachorros consigam nos entender e assim estabelecemos uma troca com a natureza. Nos tempos rupestres, o Homo sapiens desenhava nas paredes aquilo que pretendiam fazer, mas antes mesmo da pintura suas próprias expressões faciais e olhares já emitiam informações que eram captadas pelo outro, que por sua vez retribuíam com outros sinais. Mas, hoje em dia ainda sabemos nos comunicar? Aparentemente não. Vivemos em mundos diferentes, cada um em sua ilha, separados por milhas e milhas de água, milhas e milhas distantes. O barulho do silêncio, as ondas batendo em nossas praias solitárias é ensurdecedor. Nenhum barco, ninguém à vista. Sol vem, lua vai. No horizonte apenas as nuvens escuras. Algum dia vamos nos esquecer que existem outros, algum dia... Saramago sabia de tudo. O outro já não mais importa, quase não existe, aparentemente não faz sentido gastar olhares, abraços ou palavras com alguém. Já se foi o tempo em que se gastavam horas conversando pessoalmente, agora são horas em frente ao celular e o tempo que resta pode ser dividido entre trabalho, sono e algum lazer no final de semana, quem vai nos salvar? Eu e você, ilhas vizinhas, dividindo olhares e palavras, comunicando a vida enquanto ela passa. Foi só respirar que ela passou, nossa conexão acabou.